Nas últimas semanas temos sido bombardeados com pormenores mais ou menos sórdidos do Processo Marquês.
Sócrates, imagino, está furibundo com a exposição a que se vê sujeito, o que se nota pelo tom sempre crescente de irritação e arrogância com que vai respondendo ao juiz de instrução.
Tenho sérias dúvidas que a divulgação do audio das sessões de interrogatório pelo juiz de instrução seja positiva, necessária ou sequer desejável. A justiça, creio, não se faz nem nos jornais, nem nas televisões. Um certo recato, alguma mediação entre o tempo da justiça e o tempo dos tablóides, parecem-me essenciais.
Mais preocupante, porém, é o que resulta das declarações de Sócrates que, entre demonstrações de incredulidade e repúdio (o homem estará bem?), têm dado azo a profunda galhofa.
Não há quem não se espante com as histórias do dinheiro para as férias, as férias de ski, o cofre da mãe, etc. São, não há dúvida, declarações que atiram este já inclassificável personagem para a galeria dos fenómenos do Entroncamento.
Sucede, e espero estar enganado, que talvez o personagem continue a não ser tão burro como o querem fazer parecer.
Parecem alguns esquecer que estamos no domínio de um processo penal e não de uma qualquer avaliação de carácter.
E, em boa verdade, por entre as inenarráveis descrições de obtenção de fundos, a menos que me tenha falhado algo, não vislumbrei uma única referência ao modo, circunstâncias, pessoas e actos concretos de corrupção que teriam gerado as tais quantias astronómicas de dinheiro.
Se é certo que em matéria de percepção social "O Inginheiro" Sócrates tem o destino traçado, tenho sérias dúvidas que para efeitos de condenação penal o processo siga o melhor caminho. É que, recordo, estamos perante uma acusação de corrupção e não de mau carácter.
Veremos quem se ri por último.